segunda-feira, 11 de outubro de 2010







Não uso mapas para me guiar.

Gosto do efeito de estar perdido.
Assim, neste grau, milagres
delicados acontecem
pelo caminho incerto.


Tudo é novidade, tudo
é outra coisa a toda hora.
Estico, pois, a alma,
para que o mundo caiba em
mim, mas sempre me
escapa o mundo.

Protejo o silêncio do
pensar ruído nesta senda.
Então, eu sigo em mim uma jornada,
uma caça pelo espelho transparente.
Uma libação interior pela luz.

Meu caminhar é impreciso.
Faço, pois uma prece.
Deixo meus olhos sempre
dissolvidos nos símbolos
verem mensagens secretas
em folhas caídas, em insetos
multicoloridos nas flores.


E em cada um destes mundos
pequenos, enxergo um desejo
de criação. Um clamor pela vida,
uma ponte entre a cor e a
essência de tudo.

Não existe amor sem corpo,
dor sem alma e nem

poesia sem extremos.

domingo, 22 de agosto de 2010






A luz atravessa as copas

e ilumina a floresta.

São cortinas de luz

desenhando

portais

entre

uma flor e um lago, sob um

olhar derramado


e um esconderijo

descoberto.


Nestes milhões de verdes úmidos as

formas se misturam em cenas

entre cipós.


As cores

flutuam enamoradas

em equações piguimentais


e cada elemento se muda

ao ser (a)tingido.


As árvores cantam com varetas, folhas

e liquens áulicas melodias.

E dançam

coreografias

partidas do

invisível reino eólico.


O azul transparente

que existe entre

estes espaços selvagens

fazem percussão

nas cascas grassas e ásperas

do cerrado

ao atlântico.

Toda esta magia dos devas inspira

o ar a chover como lágrimas

de alegria. Banhando o rio

que passa como

cavaleiro andante.


À procura

de águas oceânicas

onde o céu é

refletido na superfície.

E a alma

é revelada na

escuridão

das profundidades

abissais.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010



Mais leves que o vento,


mais altas que o mundo.



Elas virão se

você pedir.



Gostam de se vestir de

aves de rapina,

de olhos amarelos,

de folhas carmim no

pântano obscuro.



Amam apertar a língua da

gente com sabores

ardidos.



Elas,



os anjos,

dançam de olhos fechados e

inventam cachoeiras

em casas de fundo

sob a cama de velhas

desconhecidas.



Anjos gostam de

cheiro de café,

de limão,

de aperto de mão,

de bondade,

de camões.



Gostam de nadar

em espuma e

de creme de maracujá.

quarta-feira, 12 de maio de 2010




Catar vento é coisa de físico bobo.


Mania inútil de moleque malandro

que anda a oferecer

provas do invisível.

Eu gosto é de dissolver-me na trama,

apalpar no escuro imagem indecifrável.

Eu e ela, a palavra.

Somos uma tentativa

de desenho entre os vazios.

A palavra e eu

não temos dons para o factual,

nem graça para mercado de almas e grãos.

Temos sorrisos melados de beijo,

doces em caldas e carinhos baldios.

Beijo de formiga é que é coisa grande, útil.

É lance de quem entende

o mundo

é poesia

de quem beija o vento.

domingo, 21 de março de 2010



NOITE


Visto-me de escuridão para que brilhem minhas estrelas.


À noite, mãe de quem sonha deita bilhões de corpos

enquanto almas flutuam como balões boreais na negritude do cosmos...

Escondo-me nas brumas da alvorada num espectro flamenco.

Onde meus pés ritmados dançam em batuques para segurar o tempo...

O orvalho veluda de espelhos d’agua minha dama da noite.

E com a crista armada à harpia pousa na minha janela

enfeitiçando meu olhar para a melancolia da lua.

Noite eterna! Onde tudo que é invisível se apresenta,

em uivos selvagens, perfumes adocicados e amores proibidos.

E tudo que está exposto se calma, no silêncio eólico e no cricricri dos grilos...

quinta-feira, 18 de março de 2010



Sim




Chove uma tormenta dentro da

minha alma. Sou gente velha, gasta.

Andarilho maluco de pés de barro e

cabeça de copa em flor. Vivo a descer

rios oceânicos, assim miseravelmente,

como uma folha creme manga na enxurrada

ruas íngremes. Meu hálito é cravo e boemia.

Embriago-me de tudo, da beleza do mundo e da

ternura do amor. Mergulho nos bares, em filosofias

intermináveis, no que não foi realizado e tornou-se sonho.

E assim renasço puro em cada pessoa que toquei com minhas

palavras em vapor.


Gota


Assim como uma hiena fareja vestígios fossilizados de lógica.

Ando sem destino porque estou em qualquer lugar.

Deito minhas mãos em flores rupestres encantadas

e reverencio liquens sobreviventes da poluição.

Posto minha alma na direção oposta da verdade tangível.

Sou idéia pulverizada em orvalho do alvorecer.

E cada gota é uma porta, um aumentativo para

quem sabe ver o significado suspenso atrás da forma.

Deixo o vento me cantar, deixo, pois quem resiste é

quebrado e vive em pedaços uma vida inteira pela metade.

terça-feira, 16 de março de 2010




Minha guitarra arranha desafinada.

Assimetria poética tornando-se primor


Decomposição da chuva em fragmentos lagos,

rios e mares abissais


Sonhos vermes transformando o corpo

putrefato em nova cor


O  verso dança, a água passa, o tempo está

Em mim silêncio, transparecia e dúvida



Nos jogos de sorte, nas trapaças retas sobre

leis escritas a mãos injustas



Palavras que ferem o passo, à direção dos olhares encantados

Absoluta simplicidade de amar sem efeitos especiais.

quinta-feira, 11 de março de 2010




Com mãos de atiradeira

lanço meus olhos para

o céu hiante. É um mergulho

sideral de merlin num

aquário sem vidro e sem ar.



Estar contido



É a alcunha do engano não

admitido. Nada nos têm. Somos

delicada manhã no orvalho espelhada.





Transparência ao ser e não existir



É preciso seguir...



Deitar meu sonho para sonhar

meus sonhos, pois tudo é

tão perfume, tudo é tão o que é.