domingo, 21 de março de 2010



NOITE


Visto-me de escuridão para que brilhem minhas estrelas.


À noite, mãe de quem sonha deita bilhões de corpos

enquanto almas flutuam como balões boreais na negritude do cosmos...

Escondo-me nas brumas da alvorada num espectro flamenco.

Onde meus pés ritmados dançam em batuques para segurar o tempo...

O orvalho veluda de espelhos d’agua minha dama da noite.

E com a crista armada à harpia pousa na minha janela

enfeitiçando meu olhar para a melancolia da lua.

Noite eterna! Onde tudo que é invisível se apresenta,

em uivos selvagens, perfumes adocicados e amores proibidos.

E tudo que está exposto se calma, no silêncio eólico e no cricricri dos grilos...

quinta-feira, 18 de março de 2010



Sim




Chove uma tormenta dentro da

minha alma. Sou gente velha, gasta.

Andarilho maluco de pés de barro e

cabeça de copa em flor. Vivo a descer

rios oceânicos, assim miseravelmente,

como uma folha creme manga na enxurrada

ruas íngremes. Meu hálito é cravo e boemia.

Embriago-me de tudo, da beleza do mundo e da

ternura do amor. Mergulho nos bares, em filosofias

intermináveis, no que não foi realizado e tornou-se sonho.

E assim renasço puro em cada pessoa que toquei com minhas

palavras em vapor.


Gota


Assim como uma hiena fareja vestígios fossilizados de lógica.

Ando sem destino porque estou em qualquer lugar.

Deito minhas mãos em flores rupestres encantadas

e reverencio liquens sobreviventes da poluição.

Posto minha alma na direção oposta da verdade tangível.

Sou idéia pulverizada em orvalho do alvorecer.

E cada gota é uma porta, um aumentativo para

quem sabe ver o significado suspenso atrás da forma.

Deixo o vento me cantar, deixo, pois quem resiste é

quebrado e vive em pedaços uma vida inteira pela metade.

terça-feira, 16 de março de 2010




Minha guitarra arranha desafinada.

Assimetria poética tornando-se primor


Decomposição da chuva em fragmentos lagos,

rios e mares abissais


Sonhos vermes transformando o corpo

putrefato em nova cor


O  verso dança, a água passa, o tempo está

Em mim silêncio, transparecia e dúvida



Nos jogos de sorte, nas trapaças retas sobre

leis escritas a mãos injustas



Palavras que ferem o passo, à direção dos olhares encantados

Absoluta simplicidade de amar sem efeitos especiais.

quinta-feira, 11 de março de 2010




Com mãos de atiradeira

lanço meus olhos para

o céu hiante. É um mergulho

sideral de merlin num

aquário sem vidro e sem ar.



Estar contido



É a alcunha do engano não

admitido. Nada nos têm. Somos

delicada manhã no orvalho espelhada.





Transparência ao ser e não existir



É preciso seguir...



Deitar meu sonho para sonhar

meus sonhos, pois tudo é

tão perfume, tudo é tão o que é.