terça-feira, 11 de agosto de 2009


Luz...




Um mundo se abre e o olhar se encanta.
Uma dona, de vestido de luz desfila calma.
A rua é negra, mas ela traça um cometa a cada
passo descalça.

As lamparinas mascavas ao longe, parecem
refúgio de outro tempo. Quando a luz era amarelada.
Quando o chão era marrom e o amor se deitava
nas praças sem culpa.

As linhas de cada trama de cetim guardam uma
carta guia de como nossa alma é arranjada de fios infindos.

Estamos ligados a tudo como uma enorme coberta que aquece

os corpos e deixa o espírito sonhar tranqüilo.

Hoje, o presente, é o grande dia. Não ha outro ou outra magia. Nada.

Por isso, salve-se com um beijo doce, do amanhã que não chegará.

Concentre-se nos lábios rubros do seu amar e você, enfim

encontrará a imortalidade deste instante lírico.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009


Roda



Vejo a sombra de uma roda a girar.
Arco por arco a lamber o chão sem o tocar.
Meus olhos são a porta por onde meu ser trafica devaneios.

Faço escambo da ternura minha pela beleza tua. Posto as mãos em mudras bailarinos e recebo beija-flores no meu caminho.

Tenho uma navalha cor de marfim e um lenço de seda preta. Mas, toda poesia que vi não me basta. Toda divinação que tive nos dias estrelados não chega. Sou incompleto e pateticamente romântico. E o que me falta, o que me falta está numa dimensão abstrata, intangível onde minha espada não vale a bainha.

Por isso, ando pelo mundo em busca de algo que sei que não terei. Quem sabe mais velho e cansado, eu ouça, sem pretensão, o vento. Dance sobre os fios de água dos rios e entenda que a vida independe da minha vontade.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009


Êxodo



O universo está numa gota. Mas é a secura do chão que nos faz chorar. Lágrimas são como repostas do coração para banhar o agreste e diluir o pó. Pés rachados no chão ocre partido em lâminas. Então, eles seguem... gatos, cachorros e filhos. Mães e pais. Velhos, caixas de papelão amaradas com cordão de nylon. Endereços mal escritos e um sonho doído carregado por vinte mãos. Eles, seres invisíveis, não envergam. Biscoito de polvilho, criança doente, mães adolescentes. Cheiro de mijo e de fé. Falta muito? Não, não, falta pouco filho. Só mais um dia. Ta chegando. Falta pouco? Sim filhote, à rodoviária fica a cinco horas daqui. E a nossa casa?...