Fazer rir é uma prece
Traço um rosto em mim. Um desenho bobo em si.
Uma máscara se faz e se desfaz então, eu, sem escudo.
Meus muros rachados e o alpendre turvo balança
a cadeira vazia da minha velhice incerta.
Tenho tido vontade de morrer, mas não de me matar. Ser flor, que se abre, que revela seu encanto e flutua sobre a terra para que os frutos sejam mais doces.
O telescópio camuflado no galpão da minha casa está voltado para o céu da minha boca muda. Mas grito! Grito para as estrelas que eu existo.
Eu insisto!
Claridade pode ser treva quando não se quer
lembrar da fulgurante eternidade.
Preciso de tudo e todos. Beber o mar inteiro, ter o verbo amar como solfejo.
Desejo o nada para me dissolver. Ser deserto, enlouquecer, ser criança mil
vezes e crescer uma só vez. Ser palhaço com sabedoria de palhaço,
pois fazer rir é prece das artes