segunda-feira, 7 de dezembro de 2009


Tirei a barba, lavei o rosto e passei perfume.
Pus uma camisa branca, acreditei no dia,
fiz uma reza doce no meu pensamento.
Pedi um emprego e um amor. Agradeci
as pérolas e os curativos do caminho.
Comi arroz doce e palavras que não
saíam da minha boca desenhada a carvão.

Cheguei à casa e olhei no espelho.
Vi minha alma a dançar balé clássico no
meu olhar castanho. A bailarina era de
vidro negro.
A cidade me deixou cansado,
a vida está me deixando turvo e minha
fé antes ancorada. Agora está deitada
num gibi de realismo fantástico na prateleira
da sala.
A barba cresceu novamente.
Fiquei em casa, nu, sem perfume,
sem oração, apenas em silêncio.