segunda-feira, 7 de dezembro de 2009


Tirei a barba, lavei o rosto e passei perfume.
Pus uma camisa branca, acreditei no dia,
fiz uma reza doce no meu pensamento.
Pedi um emprego e um amor. Agradeci
as pérolas e os curativos do caminho.
Comi arroz doce e palavras que não
saíam da minha boca desenhada a carvão.

Cheguei à casa e olhei no espelho.
Vi minha alma a dançar balé clássico no
meu olhar castanho. A bailarina era de
vidro negro.
A cidade me deixou cansado,
a vida está me deixando turvo e minha
fé antes ancorada. Agora está deitada
num gibi de realismo fantástico na prateleira
da sala.
A barba cresceu novamente.
Fiquei em casa, nu, sem perfume,
sem oração, apenas em silêncio.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009



A ponta aguda da flecha reluz em prata.
Destino exato! Mãos desenhadas para o preciso.
O vento deveras perfumado brisa ao ser cortado
em sua invisibilidade. A folha cai com o movimento
e flutua como pluma até o chão molhado. O arco faz
papel de harpa na solidão. Lança-se a seta e faz-se
à música minimalista do clérigo. Nota que mareja
seus olhos de águia no alvo infindo dentro de si.
O dia termina no recomeço da noite. No ciclo
de luz e estrelas que faz a tradiçãode quem vive
à procura de si mesmo!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009


A chuva fina cai lá fora e aqui dentro do meu alfobre interior.

O vidro que separa estes dois mundos monocromáticos é

meu ser ainda prometido a ver a face do amor.

A roupa branca no varal dança, sem alma, com o vento.

Brinquedos jogados e silêncio, sem calma. Paz sem violino...

A luz pálida atravessa o jarro de água na janela.

Nunca.Uma flor pousou nesta cena do meu quarto.

Lá fora o mundo não me abraça, não me fala, não me vê!

Coloco o vinil na vitrola, na mesma música, na mesma

altura. Sempre a lembrar de você.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009


Meu coração não sabe cantar em naipes. Quem sabe talvez tocar um tambor abafado e vermelho!?Mas ele fala em bom tom pelo meu olhar diamantino. Frente à beleza, choro! Seco pálido diante o terror.Quero ser simples, mas ainda não sou. Faltam lapidar camadas de hipocrisias, orgulho e desamor. Existem amarras que não me deixam dizer sem gargalo o que digo sem tentar agradar, sem buscar convencer.Sem a poesia da vida eu poderia morrer. Mais cedo, mais tarde, amar só uma vez. A poesia é a verdadepor trás das cachoeiras geladas e dos dias nublados. A verdade me comove me despe, me expõe ao amor.


terça-feira, 27 de outubro de 2009


Perguntas sem Respostas



O que é o amor? Eu não sei! Você me ama? Amo. Amo de mais para dar conta. Para contar, para dizer, pra medir. Mas quando jogo uma pedrinha na lagoa que roubei das suas mãos um círculo se forma n’água e algo se desmancha dentro de mim. Amor... O que é paz? Eu também não sei . Eu não sei mesmo. Não sei dizer nada sobre algo tão leve, sem substância nem cor. Mas quando você passa suas mãos no meu rosto como uma pena de algodão. Eu sinto um silêncio perfumado calar minhas guerras baldias. Minha flor... O que é liberdade? Eu não tenho idéia. Não tenho jeito para falar sobre o que não cabe na minha boca e nem nos meus pés. Mas quando ando descalço pelos desvios nos quais me atrevo caminhar e sinto o marrom úmido do chão. Posso andar dias me alimentando apenas de paisagem, água e lembranças das nossas noites livres de amor e de paz.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Escada pra subir e pra descer. Escada. Só isso.Ruelas grafitadas. Trepadeiras bem cortadas; matas feitas de copas com quatrocentos tons dê cor.Deserto de areias brancas, de curvas serpejantes e alaranjadas rabiscadas pelo temporal. Vastidão. Olhos apontados pro céu estrelado. Neste instante,não existe mais labirintos, nem procuras, nem saídas. Só existem eu, o céu e a bondade que me atravessa o gosto. Minha imaginação têm luz, cheiro, textura e dor. A! Que saudade das estrelas dálias, das princesas e das bailarinas perambulando minhas noites solitárias. Que vontade de acordar em paz, sem gemidos, sem ruídos, sem complexidades. Água, pão e amor. Que vontade de chorar, mas não sou mais rio, não sorrio e não deságuo em algo maior que eu.

terça-feira, 29 de setembro de 2009





Sinto um vazio que me sufoca o peito!
Uma falta, uma saudade, um vaso sem nata.
O álcool já não me aplaca, nem me tira a dor
das horas. O amor ainda não aconteceu
novamente. E até... então, sou um Zeppelin
pairando sobre o oceano azul cobalto.

Estou ao meio! Á espera entre uma tempestade e outra.
Então me calo, me choro, me esqueço. É a secura nos lábios
das palavras não ditas, dos sonhos desistidos, da vida que
não é fantasia. Eu já amei com a pureza da alma, do corpo,
com verdade. Por isso, coisa outra não me basta. Nem a
beleza que existe, nem a ternura que insisti,
nem a poesia que me salva.

domingo, 6 de setembro de 2009


copo americano



Dia frio. Um vento gélido anda em passos lentos pelo corredor. Acordei com o mundo me enfrentando, me jogando granizo denso no rosto. Lançando lembranças minhas, sujas, invadindo minhas tramas sem mandado.

Grosseiramente esta manhã, que não é minha, que é do mundo está me expondo a mim mesmo. Mas sou eu quem decide quando quero pensar nos meus pesares. Não venha a minha casa, a minha alma me lembrar o que eu não sou.

Mundo maldito, malfeito, mau! Meus olhos se lançaram pra fora da janela de bordas castanhas. O mar estava negro, bravo, vingativo. A areia branca estava cinza e úmida. A chuva fina perecia eterna.

Bastou um dia revés e o sol se tornou só uma lembrança remota. Sem controle! Quem abriu as portas da minha vida? Peguei minha espada ritualística e desafiei este ser invisível que parecia gostar de me ver desesperado. Havia um prazer corpulento no ar desta alma gigante que me atravessou o peito me deixando transparente.

Eu não queria me ver. - Cobre-me! Empresta-me um lençol para tapar a nudez da minha alma. Preciso de mais tempo para me despir de tudo. Deste outro eu funcional que tomou a frente da minha máscara principal. Não estou pronto para ser do meu tamanho. Acostumei-me a ter a forma da fechadura da porta do meu quarto, das minhas desculpas, do meu medo de vencer uma imagem derrotada já descascada pela verdade agora irrefutavelmente desvelada...

sábado, 5 de setembro de 2009


Amor anarquista

O amor não é um jogo. É um desnudar-se de intenções. Ficar em pêlo, fragilizar-se na incerteza que é o outro.

Despedace suas regras vãs com as mãos ungidas de perfume. Lacere a poesia que escreveu, em pedacinhos de papel, e tome cada um deles como comprimido pra te lembrar da loucura das fiúzas.

É preciso enlouquecer para amar. Os santos falam com passarinhos, os amantes jejuam sem precisar acreditar em Deus. Atiram suas roupas pela janela, trocam riquezas por pétalas caídas no chão.

Não ha presente mais lindo que o mistério, a possibilidade de tudo e de nada. Das mãos calejadas penando suas redes ao mar sempre incerto. Enigma este que é o fascínio dos entes das águas. Assim, como o verdadeiro poeta serra os olhos e lança uma flecha mirando a estrada infinda da utopia.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009


Vida Estúpida



Como pode um coração conter tão distintas emoções? Estilhaços atímicos de rubis ao sol findo a esmeraldas castas de pele humana feminina. A loucura é uma linha de algodão tingida de aparente finitude. E eu? Sou uma sura transparente revelando a cada vôo as cores ditadas pelo tempo. Todo amor que derramei nas taças meninas, foi bebido como vinho puro, nobre e rubro. Escorrido pelos lábios, doce, adorado e depois... tragicamente esquecido. O amor é ausência! E eu não sou nada! Apenas uma noite estrelada feita de promessas que eu não sei cumprir. Amanhece sempre! E o sol apaga todas as estrelas. O amor é noite. E eu não posso impedir que o dia venha. Não tenho talento para o contínuo, para a reta e o rio, para o correto, para o traço firme. Minhas mãos não sabem desenhar o que meus olhos vêm. Minha boca não canta o que minha alma sopra. Restou-me então, apenas, nesta vida estúpida e parca, um caderno com folhas brancas onde tudo, tudo é possível, mas nada acontece.

terça-feira, 11 de agosto de 2009


Luz...




Um mundo se abre e o olhar se encanta.
Uma dona, de vestido de luz desfila calma.
A rua é negra, mas ela traça um cometa a cada
passo descalça.

As lamparinas mascavas ao longe, parecem
refúgio de outro tempo. Quando a luz era amarelada.
Quando o chão era marrom e o amor se deitava
nas praças sem culpa.

As linhas de cada trama de cetim guardam uma
carta guia de como nossa alma é arranjada de fios infindos.

Estamos ligados a tudo como uma enorme coberta que aquece

os corpos e deixa o espírito sonhar tranqüilo.

Hoje, o presente, é o grande dia. Não ha outro ou outra magia. Nada.

Por isso, salve-se com um beijo doce, do amanhã que não chegará.

Concentre-se nos lábios rubros do seu amar e você, enfim

encontrará a imortalidade deste instante lírico.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009


Roda



Vejo a sombra de uma roda a girar.
Arco por arco a lamber o chão sem o tocar.
Meus olhos são a porta por onde meu ser trafica devaneios.

Faço escambo da ternura minha pela beleza tua. Posto as mãos em mudras bailarinos e recebo beija-flores no meu caminho.

Tenho uma navalha cor de marfim e um lenço de seda preta. Mas, toda poesia que vi não me basta. Toda divinação que tive nos dias estrelados não chega. Sou incompleto e pateticamente romântico. E o que me falta, o que me falta está numa dimensão abstrata, intangível onde minha espada não vale a bainha.

Por isso, ando pelo mundo em busca de algo que sei que não terei. Quem sabe mais velho e cansado, eu ouça, sem pretensão, o vento. Dance sobre os fios de água dos rios e entenda que a vida independe da minha vontade.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009


Êxodo



O universo está numa gota. Mas é a secura do chão que nos faz chorar. Lágrimas são como repostas do coração para banhar o agreste e diluir o pó. Pés rachados no chão ocre partido em lâminas. Então, eles seguem... gatos, cachorros e filhos. Mães e pais. Velhos, caixas de papelão amaradas com cordão de nylon. Endereços mal escritos e um sonho doído carregado por vinte mãos. Eles, seres invisíveis, não envergam. Biscoito de polvilho, criança doente, mães adolescentes. Cheiro de mijo e de fé. Falta muito? Não, não, falta pouco filho. Só mais um dia. Ta chegando. Falta pouco? Sim filhote, à rodoviária fica a cinco horas daqui. E a nossa casa?...

domingo, 19 de julho de 2009


Quando eu era criança quebrava todos os meus brinquedos. Um por um. Não havia um só que fica-se inteiro. Era uma procura frenética. O que será que há dentro de cada coisa? Depois das descobertas, eu juntava os cacos coloridos e brincava como quem tinha nas mãos um universo decifrado.

Meus olhos sempre famintos por enigmas. Descobriram o sexo aos sete anos. Vendo duas joaninhas transando dentro de um pote de vidro onde eu observava insetos. Foi incrível entender, sem nenhuma palavra o que elas estavam fazendo. Este era meu segredo com o universo. O amor dentro de um mundo de vidro só meu.


Nunca deixei de ser criança totalmente. O que é considerado uma doença psiquiátrica. “Você tem que ser uma peça ou óleo e fazer a máquina girar”, mas eu sou água e me sinto desconfortável no meu corpo. Onde não cabem minhas fantasias.


O mundo e eu não fomos feitos um para o outro. Temos medidas que se esbarram. Ele me nega e eu sonho. Eu o nego e ele me acorda. Um jogo duro! E assim, neste embate de forças, sou quebrado todos os dias e me refaço caco por caco, mas sempre falta um pedaço.

terça-feira, 7 de julho de 2009


Sou viciado em tudo! Mudar os canais da teve, abrir a geladeira mil vezes só pra ver o que nela não há. Falar mal de alguém e baforar retóricas mórbidas. Comer demais, beber e sonhar a mais. Torpe de mim. Assim me sinto, assim deixo de me sentir, dobrado pelos meus desejos. Dependo das minhas tragédias pessoais. Sete por semana em média. Preciso da dor, porque não sei amar! Sou viciado em coca, em sal, em lágrimas fáceis, em sorrisos constrangidos. Sou amoral como um deus grego, sendo apenas a caricatura de um homem comum. Um desenho numa cartolina que ficou na infância. Preciso dos seios das mulheres, do abraço das crianças, da beleza da manhã, da infinitude do espaço. Olhar uma borboleta azul e acreditar que recebi algum sinal divino. Preciso acreditar na transcendência. Porque não sei viver a realidade pura. Pureza? Realidade? Não sei o que é isso. Então, me entorpeço de boa música, me mato, me dopo, me entrego de corpo e alma ao vazio.

terça-feira, 30 de junho de 2009


Fazer rir é uma prece



Traço um rosto em mim. Um desenho bobo em si.

Uma máscara se faz e se desfaz então, eu, sem escudo.


Meus muros rachados e o alpendre turvo balança

a cadeira vazia da minha velhice incerta.


Tenho tido vontade de morrer, mas não de me matar. Ser flor, que se abre, que revela seu encanto e flutua sobre a terra para que os frutos sejam mais doces.


O telescópio camuflado no galpão da minha casa está voltado para o céu da minha boca muda. Mas grito! Grito para as estrelas que eu existo.

Eu insisto!


Claridade pode ser treva quando não se quer

lembrar da fulgurante eternidade.


Preciso de tudo e todos. Beber o mar inteiro, ter o verbo amar como solfejo.

Desejo o nada para me dissolver. Ser deserto, enlouquecer, ser criança mil

vezes e crescer uma só vez. Ser palhaço com sabedoria de palhaço,

pois fazer rir é prece das artes

quinta-feira, 25 de junho de 2009




Cinzas


Caíram hordas de pétalas azuis do céu. Ele sacou um canivete e fez um corte no dedo anular. Depois passou a lâmina para ela que seguiu o mesmo ritual. Eles fizeram um pacto de nunca mentir. Num crepitar que durou uma eternidade às nuvens mudaram de cor. Ficaram cinza avermelhadas. E pétalas vermelhas caíram do céu vermelho. Sons de trombetas rasgaram o espaço como uma flecha atravessando um condor.Ela olhou pro alto e viu anjos descendo em assombrosas legiões.
“O mundo está acabando”, disse a mulher intempestivamente.“O mundo já acabou” falou o homem com os olhos iluminados de amor.

sexta-feira, 19 de junho de 2009








Vagina


Boca de logo que engole o verbo.

Losangulo hirsuto que se escreve em luz.
Calor que mata e salva almas aflitas.
Seu bálsamo entorpece semideuses.
Leva homens e mulheres à loucura ou a santidade.

Você é o maior prêmio das rinhas desumanas.
Poder e dinheiro levam a ti.
O amor leva a ti.
A lascívia te leva a molhar o mundo...
por onde correm rios que deságuam dentro
e fora do universo passional.

Em seus lábios delicados e mudos, beijos.
Tu és uma flor a ser despetalada numa
brincadeira eterna de bem e mal me quer.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Mergulho as mãos no riacho esmeralda
A água escorre assim como a vida
se desfaz no olhar de quem acabou de partir.
Então... mergulho de finca. Enxergo tudo verde na
transparência deste novo ambiente.
Brinco de voar como se estivesse voando.
Olho pro fundo, mas não há.
O infinito transfigura-se em tormento.
Não ver o fim também nos tira o alento.
Falta ar. Falta saber o que há de haver.
Isso me faz retornar a tona, à superfíciede mim.

sábado, 13 de junho de 2009


O mundo é um círculo. Terra, íris, átomo, canção. A ampulheta azul prateada rompe. E o tempo desfia o fio de areia pelo ar.Boca e medo, lábios trêmulos, fim dos instantes, início de um eterno amor.Loucura e vidro, transparência e torrão. A alma se entrega como folha de figueirana no vendaval que vem da escuridão. Desprezo pelas batalhas interiores no deserto das metáforas. Lascívia e fobia de estar incorporado. O mundo me venceu.

terça-feira, 9 de junho de 2009







LAMPARINA

Eu abro a janela. Assim... recorto o mundo
como um lambe-lambe fazendo uma fotografia.
Em frente, há flores do campo, montanhas e nuvens.
E é esse o quadro moldado pela janela enamorada
dos meus olhos. Dentro de casa, a luz foi cortada.
Falta energia para trabalhar nos meus sonhos.
Só o sol e a lua me fazem companhia.
Eles são de graça, amorais.
Não exigem nada.
São como um cão sideral obediente a uma
ordem invisível. Perco mil vezes a hora, a paz,
e eles continuam a me iluminar. Mas dentro do
meu ser há uma lamparina acesa. Muitas vezes
com a chama baixa, outras com cor topázio
e, poucas vezes, brilhante... Nessas raridades
de instantes, assim como é raro o amor,
eu sou a luz do meu próprio caminho.
Meu próprio sol.
E esta luz é o país onde
moro quando me lembro que além da janela do
quarto existe a janela da alma.

sábado, 30 de maio de 2009




O verde reto do gramado segue até o infindo. O campo é maior que o mundo e o mundo é grande.

Meu olhar está no jogo, olhos de teleobjetivas cadentes. Eu estou de fora, mas meu corpo ameaça cruzar em ato reflexo, a linha branca que me separa do meu olhar.

Eu não ganho, não perco, não luto. Existo por alguns segundos e depois me agito num drible imaginário, num passe perfeito que eu fiz dentro do meu peito.

Não torço por cores, bandeiras ou gritos. Eu sou fome de bola. No meu mundo redondo, no universo de ausências fiz todas as jogadas de craque.

Quando todas as estrelas param começa minha partida. Jogo por todos com apenas um lançamento. Não tenho nome, não tenho rosto, não tenho idade.
Eu sou o gandula.

sexta-feira, 22 de maio de 2009





















Ela pisa o vento.
O vento abraça uma árvore esquecida.

Tudo está ligado por uma ternura enferrujada, lenta,
dia após dia. Cheiro de metal velho, de hipocrisias não curadas.

Lembranças desintegradas do que um dia foi,
honra espada e juramento.

Ela dança nas águas. Cabelos lavados no riacho.
As águas preenchem o vazio. Seguem os sinos largos.

Ela colhe as plantas da terra, perfume natural de mulher,
cheiro de atração e de flor. Ela é colhida como uma criança
tocando uma gota de orvalho com o dedinho indicador.

Ela é o único gira-sol a procura da lua. Seu gosto feminino
pela claridade do que é tênue.

Ela morre no fogo, deixa seu corpo como quem tira
um vestido de noiva pronta para morrer de amor.

segunda-feira, 11 de maio de 2009


















Vasculho o espaço como um carcará na floresta branca.Vôo raspando o peito no chão rachado e seco.Depois me solto no ar para subir numa bolha quente.Sou rapina e roubo. Trapaça de garras impetuosas por sobrevivência.Astucia e devaneio do calor do sol a pino. Azul, céu, vastidão e mais nada.Eu sou uma fantasia. Tecidos ao vento, lençóis dançando no varal do terreiro. Um espelho sem personagem, uma lenda feita de cantigas de amor. Sou a fábula de todos os homens. Os heróis, os malditos, os santos e os putrefatos. Sou contradição por princípio. Caminho mil léguas sem destino. Me destino ao imprevisível. Me destina a vida ser um ator. Finjo emoções opostas, mimetizo o brilho nos olhos do olhar verdadeiro. Morro por pequenas vaidades do cotidiano. Morro todos os dias e todas as horas que estou atrás da capa que me cobre por inteiro.Eu não posso ser eu mesmo na proporção que desejo. Já tentei e fui esfaqueado no peito, fui magoado, fui esquecido. Só me resta relembrar como eu era feliz jogando futebol nos campinhos malhados dos terrenos baldios.

segunda-feira, 4 de maio de 2009


Perca-se


Estar certo é estar perdido. Perca-se. Joque fora todas as certezas hoje mesmo. Elas são ervas daninhas que impedem nascerem às rosas. A vida não tem propósito nenhum. Pare de buscar respostas, pois não ha pergunta alguma. A chuva molha o pasto e o santo incondicionalmente. Olhe o mundo com eterna novidade. Prove todas as coisas com infinito ineditismo. É sempre sua primeira vez em tudo, pois você nunca é o mesmo de antes. Instante por instante já é outro ser. Se olharmos uma estrela, uma abelha ou uma flor todas elas nos indicarão o mesmo caminho para a unidade. Não importa onde se olhe estamos fadados a sermos, um, imersos na multiplicidade. A racionalidade cega o coração e é ele quem tem a chave para o amor. O único significado para as nossas faltas.

quarta-feira, 22 de abril de 2009





Estou cá fora contemplando o céu praguejado.A vastidão a reverberar em tom grave no meu peito. É música, perfume e saudade. Saudade de um mistério que eu intuo existir, além de mim, além da escuridão do espaço. Estou cá dentro voando, correndo, nadando dentro da minha alma. O que sempre fui é a maior e a mais incrível das novidades. Eu mesmo. Na figura pura, em essência, sem véus, sem tramas, sem trapaças dos olhos desejosos de miragens, de perfeições travestidas. Estou cá ao lado. Seguindo meus passos como sendo de um outro alguém, um passante andando depressa, falando sozinho, gesticulando para uma ente imaginado. Brincando de reparar nos meus gestos, nas minhas formas.Estou cá em cima. Flutuando a cidade onde tudo parece pequeno.As luzes, os carros, agora, são quase um enxame. A altura me deixa encantado com a perspectiva do alto. Basta mudar o olhar e tudo se torna moço.

sábado, 11 de abril de 2009





Entreguem-se de mãos dadas e olhos fechados.
A boca seca, a palavra muda. Não se masturbem em dupla como se estivessem fazendo amor.
Sinta-a como dela o prazer.
Amor é o que você oferece e não o que você espera receber. Quem sente o que é o amor?
O amor, essa deidade invisível é só o que existe, o resto são dores travestidas de prazeres fugazes, são migalhas de pombos, são fogos de artifício.
Um segundo, uma explosão de cores e tudo se apaga. Sinta a delicadeza do feminino na sua sensualidade mais pura, sua pele macia, suas coxas nuas.
Os homens querem ser acolhidos, assim acaba a solidão do corpo e começa a vastidão do encontro

sábado, 7 de março de 2009


Casa sem teto.

Uma agulha fina liga minha íris a uma estrela no céu praguejado.

O negro sideral, posto dos astros acomoda todos os entes.

Deitado na cama posso alcançar os rastros cadentes.

Voltado pra dentro dissolvo as distorções de foco.

O olhar é a mãe de toda beleza, de toda feiúra.

Conceitos antropológicos.

O universo, ou versos, só existem em outra dimensão.

O que vejo é criação dos olhos.

Por isso estamos sozinhos, jamais veremos o mesmo.

terça-feira, 3 de março de 2009


Sonhador

"Entre uma propaganda e outra"


Viro-me do avesso para ser poético, mas ás vezes apenas escrever me basta. A beleza me escapa nestes dias nublados. Fere-me ver as feridas das ruas. Encosto para descansar antes de entrar em casa. Tenho bebido demais, sonhado demais, tido vontade de morrer. A cidade me atravessa com palavras voadoras, ai, eu emudeço. Calo-me por dentro, até lá parece haver propagandas para me seduzir com coisas “minhas”.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Just


Devoto das cores. É eu sou. Amarelo-carambola, laranja-pitanga, azul-atma, marrom-maternal, terra, chão.

O verde é arte, pureza lavada, natureza pelada.

Verde é esmeralda tomando sol na janela.

- Olhar uma pessoa nua é tão bom, árvore na chuva.

- Uma gota calada, galhos longos, araucária.

O gosto de tudo é quase inacreditável.

Mulher vestida diante a lagoa, vestido de cor, vestido de folhas.
Ela dança... Há uma fogueira por perto. Descalça, a menina pisa no chão de terra mostarda, marrom. Seus pés acolhem a poça d’água com as palmas nuas e a imagem que refletia a gata de olhos carmim fica turva

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Sandra

Nome de origem grega Sandra quer dizer
“defensora da humanidade”


Poesia

Um sopro perfumado invade as almas daqueles que desistiram de sonhar. Sonhar com cachoeiras que nascem da terra, com nascentes esmeraldas que descem como um fio de prata do céu.

-Menina de olhos de caramelo, de alma de pedras preciosas. Alguém que guardou entre um sorriso e uma lágrima uma criança que não se cansa de renovar seu batismo diante os “adultos” que vendem sua seriedade por conta da sua saúde.

O vai e vem do mar, o vai e vem do ser e estar. Tem um propósito singelo para o seu bem querer. Beijar seus pés na maré alta com espuma branca, com a ternura clara.

Seu vôo é de passarinho exibido entre o azul e o mar, sob o sol e o vento entrelaçado entre o espaço e o tempo. Sandra, seu humor é uma pitada temperada nos sabores do mundo. Mundo que você prefere voar em silêncio como um pardal ligeiro tendo uma águia escondida no mais recôndito labirinto do seu coração
.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


JALAPÃO



Corpo e alma, mundos distintos que se esbarram.
Dunas e riachos vivendo margeados.
Tudo que é interior reflete-se como espelho d'agua.
Mistura-se, confunde-se.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Femíneo


Mulher é água.
Segue em direções maiores. Protege ás pérola, abre portais que divinizam o verso.
A mais alta beleza mergulhada em si mesma. Opulência da forma, impermanência.
Meninas dançam com saias de luz... Afinam o ciclo da lua, fazem chover na horta do mundo. Mistura de um ritual sem registros. Cúmplices de um tempo sem tempo, sem tratados. Oralidade criadora e aniquilamento.
Chuva.
Mãos erguidas ao céu. Irmãs da alquimia primeva. Inocência, descoberta.
Transformação das substâncias.
Água infinita.
Água profunda. Seu interior é incognoscível.
Sua cria é bruma que se desfaz no vento.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Textura


A textura das cores tem cheiro de mato molhado. O gosto das flores tem som grave e agudo.

Uma gota vermelha explode sobre o mar branco de leite. A luz atravessa a transparência do jarro vazio. Orquídeas violetas encantam um canto do mundo.

Meninas com saias curtas desfilam na passarela da inocência. Nada é mais lindo que uma mulher nua de saia. Os braços se abrem e derramam um pouco de azul entre as pernas. Pernas abertas, almas abertas, serenidade misturada com furor.

“O perfume dos seios é doce de jabuticaba madura”, como já dizia o mestre Pagotto. Entregue-se de olhos fechado e coração escancarado. Sorva a beleza explícita em cada detalhe calado. Este é o milagre mais lindo que a vida oferece. O gosto da chuva numa manhã de silêncio, o beijo com toque de flor, a naturalidade da natureza, o amor por princípio.


Fernando Esselin

Homenagem a Netuno

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Homenagem a minha avó materna


Maria de Lourdes

Viver não é apenas respirar. É ser um leão quando é preciso ser forte, um beija-flor quando se quer estar leve e ter cumplicidade com a natureza das cores. É olhar o invisível com o olhar que só as Marias têm e saber que através da oração se manifestará todos os visíveis. “Senhor que eu procure mais amar que ser amada”. Frase dita tantas vezes em pensamento, em silêncio, em sussurros religiosos, em preces.

Estar vivo não é difícil, muito homens atrozes viveram até a última gota das suas energias. Mas estar vivo – do dicionário: “Que vive; que tem vida; animado, ativo, forte, intenso, penetrante, fervoroso, persistente, ardente”. Bom... Ai, são para as almas Marianas.

Viver é enfrentar a rudeza inerente a vida e mesmo assim não se embrutecer. É ter as mãos como instrumento que vira as páginas dos dias sem se esquecer que ela, a vida, é a chama que faz com que todas as mães tenham gravadas no coração o M maiúsculo de Maria.


Homenagem a minha Avó Maria de Lurdes, um exemplo do que é saber viver e não apenas estar vivo...


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009


Homenagem a Monnet

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009


Serra da Canastra

Natura

Nós somos natureza, a natureza, naturais. Deveríamos ser! Cabelos, pele, flores, folhas e mãos. Somos o vento e a música do vento. Um vulcão gritando em vermelho e uma pétala suspensa no ar. Somos um beija-flor e um gavião. Uma pergunta e muitas respostas dissolvidas entre as brumas infinitas do coração. Somos a moldura crua contendo a imagem do feminino dançando bolero dentro e fora de nós.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009


Patagônia


Cores explodem na floresta morta... Secura em flor. Fogo e gelo margeados. A vida, imperativo do ser nasce com uma sombra solitária em meio ao mar, sobre as montanhas, de baixo dos olhos. Invisível aos corações petrificados pelos vulcões adormecidos. Um sono mudo paira no ar. O vento canta por todas as vozes embargadas. As águas dançam por todos os corpos desequilibrados pela falta de ternura. Enquanto um único homem sofrer violência o mundo estará em perigo. E o mundo é uma gota azul pairando no sonho do criador. Eu sou um menino correndo na praia de braços abertos certo de que posso voar. Eu sou um passarinho pequeno certo de que posso pousar em qualquer parte da Terra, porque Ela, mãe de tudo que é natural não enxerga nem países nem linhas que separam os seres em catas e crenças.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009



Uma ascendência árabe em plena Bahia. Trancoso com linhas brancas cortando em delicadas curvas o azul imperecível....

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009


Crio poções alquímicas com minhas mãos apaixonadas a triturar cantigas de amor. Misturo perfumes e orações enquanto preparo feitiços antigos que invadem almas delicadas, comovem desertos interiores e mudam destinos embrutecidos...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009



O perfume dos seios é doce de jabuticaba madura. Entregue-se de olhos fechado e coração escancarado. Sorva a beleza explícita em cada detalhe calado. Este é o milagre mais lindo que a vida oferece. O gosto da chuva numa manhã de silêncio, o beijo com toque de flor, a naturalidade da natureza, o amor por princípio.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009



Uma vez a cada mil anos o dragão Tsé revela sua face cômica. Tudo que é feroz guarda dentro de si uma poesia escondida, e atrás dos olhos de fogo um lago profundo onde estão protegidos todos os mistérios da vida

Vendo esta foto meu sobrinho de 2 anos
me perguntou se eram os peixes que comiam os homens. Fiquei em silêncio...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009


Namoradeira

De tanto esperar o amor passar em frente à janela a vida sem parar passou

Neste instante estão nascendo milhões de estrelas dentro de mim e esta é uma porção pequenina do que eu sou. O infinito e suas partes, partes que se beijam enlouquecidas pelas ruas, que se amam e se descobrem... Sou cada boca encontrando novas cadências e passos em direções contrárias. Tudo é palavra, nada pode ser dito: uma flor lavada pela chuva, uma gota pousada nas mãos de uma menina nua. O que há dentro, do que há dentro, do que há dentro? Sinfonias caladas, pássaros cantando. Sou o oposto do que eu sou invertido num espelho no teto e no chão e eu não sei atravessar a película fina destas dimensões que põem tudo de cabeça para baixo e faz ser este o estado natural das coisas

A dureza das pedras dissolve-se como nuvens de verão
diante o imaginário. Tudo é pintura quando se está
desatento de si e entregue ao inesperado


Liberte o que há dentro do peito. Labirintos, brumas, monstros e anjos. Então... virão serpentinas e cometas caídos do céu, virão aromas de panelas de ferro, de almas de pedras preciosas. E neste instante brilhará ainda mais o olhar caipira perdido no tempo, olhar que reluz o ouro da inteireza mineira.