sexta-feira, 11 de novembro de 2011







Fui lançado em mar aberto onde não há
ilhas nem portos. As águas, bailarinas do
vento, estão a me levar para o oriente,
onde o sol nasce dentro dos homens e
ascende seus olhos negros.

Vejo tudo por um filtro aqui de dentro, as
deformidades, a simetria, as curvas, as
tramas. Tudo a mover-se, a dançar como
nuvens nas altitudes abissais do azul
estratosférico.

Ritmos e palmas, silêncios e toques
levitam sobre a minha calma.

É a vida em toda sua natureza inacessível
sendo desnudada de uma vez só, num lance,
numa tacada de mestre, num sorriso
indefensável de criança.

Um barquinho desponta no horizonte
numa linha tênue. É o fim da saudade é a
possibilidade de tudo mais uma vez
navegando ao meu encontro.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011







É pena levantar da cama quando a alma está amordaçada 
por fios invisíveis. 


Dentro de nós lá no canto esquerdo da nossa capela 
interior há uma vela acesa que doura as paredes


e o teto de sombras 


a cada pequeno movimento das mãos 
resignadas a religião. 


Deus é perfumaria com hálito de incenso 
e água de boticário. 


Mas saiba, dói perceber que a realidade sobre 
a qual deitamos nossos joelhos é uma ilusã
da infância do espírito. 


A mente a quem nos damos conta de eu é 
uma mira e não um ser. 


Este ser o qual nós realmente somos paira 
além do pensamento e da linguagem cognoscível. 


Falar é mentir, pois a verdade está fora do alcance 
das palavras. 


O que há por trás do que existe, como a combinação 
harmônica das cores de um passarinho é a realidade. 


O passarinho e as cores não são. 


Não precisamos de cultos, pois cada ser é uma chama 
do altar da natureza. 


A capa não é o corpo, nem o corpo a alma 
e nem a alma o homem. O homem 
é uma pergunta.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011







Escuto um estilhaço. É meu coração que se quebrou
na cozinha como uma taça, num dia sem festa,
numa segunda-feira sem graça. Me recolho então
em cada um destes cacos, no espelho de cada pedaço e
minha face agora espalhada é a imagem sincera
da imagem de mim.

Meu tino não. Meu sonho é ser oceânico para
que as gotas pontiagudas de nanquim não turvem
por completo minha transparência.

Sendo mar, portanto quase infinito, os traços negros
desta defesa de polvo não tem o poder de diluir o azul.

Assim, mar e homem se tomam por completo e
não ha mais deserto, nem saudade, nem um
coração do tamanho de um copo para se
partir por culpa do amor.

quarta-feira, 29 de junho de 2011





Você dorme como
um lago negro
cercado de
vaga-lumes.

No vidro da janela
a chuva fina

te desenha
num rosto de

gotas abertas.

A chuva dissolve
o suspiro do seu

hálito

doce

que aquece nossa

cama
e o mundo.

La fora a cinza poesia concreta

dança
sob o vento gélido.

E aqui dentro de nós
e do teu sono,

essências

vermelhas

saturam bilhões de micro

sóis

como
uma malha de cavaleiro andante,

que por mais de mil
instantes

sonha

enquanto a espada descansa os
braços,

que suaviza a alma,

que protege

o amor.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010







Não uso mapas para me guiar.

Gosto do efeito de estar perdido.
Assim, neste grau, milagres
delicados acontecem
pelo caminho incerto.


Tudo é novidade, tudo
é outra coisa a toda hora.
Estico, pois, a alma,
para que o mundo caiba em
mim, mas sempre me
escapa o mundo.

Protejo o silêncio do
pensar ruído nesta senda.
Então, eu sigo em mim uma jornada,
uma caça pelo espelho transparente.
Uma libação interior pela luz.

Meu caminhar é impreciso.
Faço, pois uma prece.
Deixo meus olhos sempre
dissolvidos nos símbolos
verem mensagens secretas
em folhas caídas, em insetos
multicoloridos nas flores.


E em cada um destes mundos
pequenos, enxergo um desejo
de criação. Um clamor pela vida,
uma ponte entre a cor e a
essência de tudo.

Não existe amor sem corpo,
dor sem alma e nem

poesia sem extremos.

domingo, 22 de agosto de 2010






A luz atravessa as copas

e ilumina a floresta.

São cortinas de luz

desenhando

portais

entre

uma flor e um lago, sob um

olhar derramado


e um esconderijo

descoberto.


Nestes milhões de verdes úmidos as

formas se misturam em cenas

entre cipós.


As cores

flutuam enamoradas

em equações piguimentais


e cada elemento se muda

ao ser (a)tingido.


As árvores cantam com varetas, folhas

e liquens áulicas melodias.

E dançam

coreografias

partidas do

invisível reino eólico.


O azul transparente

que existe entre

estes espaços selvagens

fazem percussão

nas cascas grassas e ásperas

do cerrado

ao atlântico.

Toda esta magia dos devas inspira

o ar a chover como lágrimas

de alegria. Banhando o rio

que passa como

cavaleiro andante.


À procura

de águas oceânicas

onde o céu é

refletido na superfície.

E a alma

é revelada na

escuridão

das profundidades

abissais.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010



Mais leves que o vento,


mais altas que o mundo.



Elas virão se

você pedir.



Gostam de se vestir de

aves de rapina,

de olhos amarelos,

de folhas carmim no

pântano obscuro.



Amam apertar a língua da

gente com sabores

ardidos.



Elas,



os anjos,

dançam de olhos fechados e

inventam cachoeiras

em casas de fundo

sob a cama de velhas

desconhecidas.



Anjos gostam de

cheiro de café,

de limão,

de aperto de mão,

de bondade,

de camões.



Gostam de nadar

em espuma e

de creme de maracujá.