sábado, 30 de maio de 2009




O verde reto do gramado segue até o infindo. O campo é maior que o mundo e o mundo é grande.

Meu olhar está no jogo, olhos de teleobjetivas cadentes. Eu estou de fora, mas meu corpo ameaça cruzar em ato reflexo, a linha branca que me separa do meu olhar.

Eu não ganho, não perco, não luto. Existo por alguns segundos e depois me agito num drible imaginário, num passe perfeito que eu fiz dentro do meu peito.

Não torço por cores, bandeiras ou gritos. Eu sou fome de bola. No meu mundo redondo, no universo de ausências fiz todas as jogadas de craque.

Quando todas as estrelas param começa minha partida. Jogo por todos com apenas um lançamento. Não tenho nome, não tenho rosto, não tenho idade.
Eu sou o gandula.

sexta-feira, 22 de maio de 2009





















Ela pisa o vento.
O vento abraça uma árvore esquecida.

Tudo está ligado por uma ternura enferrujada, lenta,
dia após dia. Cheiro de metal velho, de hipocrisias não curadas.

Lembranças desintegradas do que um dia foi,
honra espada e juramento.

Ela dança nas águas. Cabelos lavados no riacho.
As águas preenchem o vazio. Seguem os sinos largos.

Ela colhe as plantas da terra, perfume natural de mulher,
cheiro de atração e de flor. Ela é colhida como uma criança
tocando uma gota de orvalho com o dedinho indicador.

Ela é o único gira-sol a procura da lua. Seu gosto feminino
pela claridade do que é tênue.

Ela morre no fogo, deixa seu corpo como quem tira
um vestido de noiva pronta para morrer de amor.

segunda-feira, 11 de maio de 2009


















Vasculho o espaço como um carcará na floresta branca.Vôo raspando o peito no chão rachado e seco.Depois me solto no ar para subir numa bolha quente.Sou rapina e roubo. Trapaça de garras impetuosas por sobrevivência.Astucia e devaneio do calor do sol a pino. Azul, céu, vastidão e mais nada.Eu sou uma fantasia. Tecidos ao vento, lençóis dançando no varal do terreiro. Um espelho sem personagem, uma lenda feita de cantigas de amor. Sou a fábula de todos os homens. Os heróis, os malditos, os santos e os putrefatos. Sou contradição por princípio. Caminho mil léguas sem destino. Me destino ao imprevisível. Me destina a vida ser um ator. Finjo emoções opostas, mimetizo o brilho nos olhos do olhar verdadeiro. Morro por pequenas vaidades do cotidiano. Morro todos os dias e todas as horas que estou atrás da capa que me cobre por inteiro.Eu não posso ser eu mesmo na proporção que desejo. Já tentei e fui esfaqueado no peito, fui magoado, fui esquecido. Só me resta relembrar como eu era feliz jogando futebol nos campinhos malhados dos terrenos baldios.

segunda-feira, 4 de maio de 2009


Perca-se


Estar certo é estar perdido. Perca-se. Joque fora todas as certezas hoje mesmo. Elas são ervas daninhas que impedem nascerem às rosas. A vida não tem propósito nenhum. Pare de buscar respostas, pois não ha pergunta alguma. A chuva molha o pasto e o santo incondicionalmente. Olhe o mundo com eterna novidade. Prove todas as coisas com infinito ineditismo. É sempre sua primeira vez em tudo, pois você nunca é o mesmo de antes. Instante por instante já é outro ser. Se olharmos uma estrela, uma abelha ou uma flor todas elas nos indicarão o mesmo caminho para a unidade. Não importa onde se olhe estamos fadados a sermos, um, imersos na multiplicidade. A racionalidade cega o coração e é ele quem tem a chave para o amor. O único significado para as nossas faltas.