segunda-feira, 10 de setembro de 2007


Minhas mãos estão rasgando a cortina áspera que me deixa invisível. Tecido de veludo preto, bruma amarelo-ocre enevoando todos os cantos. Anos e anos de ensaios, idéias geniais, manobras precisas e a ninguém foi dado ver o que havia atrás das máscaras. Colei o olho na fresta, fiz pressão. Do outro lado atores petrificados no chão da coxia. Eles esperaram com fidelidade canina a hora precisa de serem perfeitos. Dia e noite sentinelas a guardar a estréia já envelhecida. O dia esperado não veio. Este dia é uma comédia trágica eternamente inédita. O tempo acabou por envelhecer, o tempo azedou. Um tijolo foi arrancado anos depois. A luz entrou em câmara lenta, em pequenos fachos. Invadiu o palco. Reis e guerreiros; fadas e ladrões foram aparecendo. Limpei a face de um monstro caído, joguei água em tudo, acendi todas as cores, liguei a música que estava no ponto... Na platéia, apenas eu, no segundo ato o mundo inteiro. No terceiro, saí do casulo cênico encantado, deixei o conforto de ser um projeto, saí de trás da capa enquanto me assistia e de dentro de mim eu renasci

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